Três Vidas: Parte I Indecisão Cap IV
André dispusera a mesa com simplicidade mas requinte. Havia uma pequena travessa com camarões à Guilho, outra com Jalapeños recheados com requeijão de Seia, e ainda outra com sashimi e respectiva guarnição de shiso e raiz de daikon, com os habituais molhos a acompanhar.
- Isto é tudo por minha causa? – inquiriu Bela. – Deves estar a sentir-te muito culpado.
A ironia não apanhou André desprevenido e este deu o seu melhor para responder de forma adequada.
- E também por minha, claro – disse com um sorriso. – E sim, sinto-me um pouco culpado por te ter deixado pendurada. Mas tu sabes que foi uma emergência. A Sara precisava de ajuda.
Bela calculava que sim. Duas semanas antes, Bela preparava-se para um muito aguardado fim-de-semana com André em Barcelona, passagens compradas, hotel reservado, carro alugado, quando Sara ligara a dizer que precisava urgentemente da presença de André para a ajudar com algo. André enviara uma mensagem críptica a Bela já no aeroporto da Portela, «Assunto urgente, tenho de cancelar, não sei quando regresso.» O mistério esclarecera-se em parte quatro dias depois quando André decidiu por fim fornecer uma explicação. Voara para Amesterdão para, dizia ele, «safar a Sara de um grande sarilho».
Bela não conhecia ainda Sara, mas já vira e ouvira muito sobre a melhor amiga de André. Pelas fotografias que André lhe mostrara, Bela soubera que Sara era uma muito atraente loura, alta e esbelta. Soubera ainda por André que Sara nascera nos Estados Unidos, filha de emigrantes açorianos, e que fora uma estudante brilhante, com licenciaturas em Aeronáutica Espacial e Biologia. Encontrava-se presentemente ao serviço da Agência Espacial Europeia em Noordwijk, na Holanda, emprestada pela NASA.
André levara algum tempo a revelar outra coisa acerca de Sara. Começara por dizer que a amiga era um pouco leviana com os seus relacionamentos pessoais. Acrescentara mais tarde que Sara gostava de ter muitos namorados e namoradas. Nada de mal nisso, pensara Bela, muita gente gosta de variedade nos tempos que correm. André confessara por fim que por vezes, os namorados e namoradas de Sara se encontravam com ela, todos ao mesmo tempo. Não era preciso fazer um desenho, Bela percebera que Sara pertencia ao grupo de pessoas que faziam swing, uma realidade que conhecia à distância, através de algumas amigas e informação geral, mas que nunca experienciara.
O problema era que, chegados a este ponto das revelações de André acerca da amiga, tinham surgido questões no espírito de Bela que careciam de resposta, entre as quais, o papel de André em tudo isso. Mas não houvera tempo para inquirir pois, uma vez resolvido o problema de Sara, fosse ele qual fosse, aparecera em cena a irmã de André, justamente a questioná-lo sobre o que fora ele fazer à Holanda com aquela «descarada», como gostava de lhe chamar.
Bela aguardou que André fizesse saltar a rolha do Luis Pato Baga Rosé Brut e perguntou:
- Mas afinal em que sarilho se meteu a Sara?
- Isto é tudo por minha causa? – inquiriu Bela. – Deves estar a sentir-te muito culpado.
A ironia não apanhou André desprevenido e este deu o seu melhor para responder de forma adequada.
- E também por minha, claro – disse com um sorriso. – E sim, sinto-me um pouco culpado por te ter deixado pendurada. Mas tu sabes que foi uma emergência. A Sara precisava de ajuda.
Bela calculava que sim. Duas semanas antes, Bela preparava-se para um muito aguardado fim-de-semana com André em Barcelona, passagens compradas, hotel reservado, carro alugado, quando Sara ligara a dizer que precisava urgentemente da presença de André para a ajudar com algo. André enviara uma mensagem críptica a Bela já no aeroporto da Portela, «Assunto urgente, tenho de cancelar, não sei quando regresso.» O mistério esclarecera-se em parte quatro dias depois quando André decidiu por fim fornecer uma explicação. Voara para Amesterdão para, dizia ele, «safar a Sara de um grande sarilho».
Bela não conhecia ainda Sara, mas já vira e ouvira muito sobre a melhor amiga de André. Pelas fotografias que André lhe mostrara, Bela soubera que Sara era uma muito atraente loura, alta e esbelta. Soubera ainda por André que Sara nascera nos Estados Unidos, filha de emigrantes açorianos, e que fora uma estudante brilhante, com licenciaturas em Aeronáutica Espacial e Biologia. Encontrava-se presentemente ao serviço da Agência Espacial Europeia em Noordwijk, na Holanda, emprestada pela NASA.
André levara algum tempo a revelar outra coisa acerca de Sara. Começara por dizer que a amiga era um pouco leviana com os seus relacionamentos pessoais. Acrescentara mais tarde que Sara gostava de ter muitos namorados e namoradas. Nada de mal nisso, pensara Bela, muita gente gosta de variedade nos tempos que correm. André confessara por fim que por vezes, os namorados e namoradas de Sara se encontravam com ela, todos ao mesmo tempo. Não era preciso fazer um desenho, Bela percebera que Sara pertencia ao grupo de pessoas que faziam swing, uma realidade que conhecia à distância, através de algumas amigas e informação geral, mas que nunca experienciara.
O problema era que, chegados a este ponto das revelações de André acerca da amiga, tinham surgido questões no espírito de Bela que careciam de resposta, entre as quais, o papel de André em tudo isso. Mas não houvera tempo para inquirir pois, uma vez resolvido o problema de Sara, fosse ele qual fosse, aparecera em cena a irmã de André, justamente a questioná-lo sobre o que fora ele fazer à Holanda com aquela «descarada», como gostava de lhe chamar.
Bela aguardou que André fizesse saltar a rolha do Luis Pato Baga Rosé Brut e perguntou:
- Mas afinal em que sarilho se meteu a Sara?
5 years ago