Três Vidas: Parte I Indecisão Cap III

Bela decidiu responder às mensagens de André convidando-a para um jantar em sua casa nessa noite. Para tal parou na estação de serviço de Aveiras já que o ronco gutural do motor do Speedster abafaria qualquer tentativa de falar ao volante. André atendeu ao segundo toque, sinal de que se encontrava um pouco ansioso.
- Estou? Bela? Onde estás?
- Estou na A1, em Aveiras, não que tenhas algo a ver com isso.
- Desculpa, estava preocupado, não respondeste às minhas mensagens.
- Tenho estado a trabalhar, tolinho, mas vou agora de regresso a Lisboa. Jantar em tua casa às oito e meia?
- Sim, vens?
- Claro, tolinho. Só nós os dois?
- Sim. A minha irmã já se foi embora.
- Óptimo. Então vá, até logo, beijos.
- Beijos, até logo.
A irmã de André não era má pessoa mas mexia com os nervos de Bela com as suas constantes interferências na vida do irmão. Bela sabia que era a maneira de a irmã mais velha proteger André mas no que lhe dizia respeito era tudo um pouco para o exagerado. André já era crescido e se tivesse de se meter em sarilhos com mulheres, paciência. A vida era assim mesmo. Sempre a aprender.
Com o trânsito que era de esperar em Lisboa à hora de ponta não havia maneira de trocar de roupa antes do jantar. Mas podia trocar de sapatos, uma vez que trazia sempre alguns pares na mala do carro para qualquer circunstância que se lhe deparasse. Bela escolheu um par de mules Zanotti pretas, discretas mas elegantes, e com um salto mais adequado ao rendez-vous que a esperava. Um toque ligeiro na maquilhagem, reforço no perfume, e Bela fez-se à estrada, deixando os utentes da estação de serviço boquiabertos com o ronco do Speedster em aceleração.
Bela entrou em Lisboa, navegou a segunda circular e o trajecto até à casa de André, próxima do Palácio das Necessidades. Chegada ao portão da garagem, accionou o comando à distância que André lhe confiara, aguardou que o mecanismo funcionasse, e entrou na garagem, estacionando entre o DB5 de colecção e o DB11 de uso diário. André era um fanático da Aston Martin, mania que apanhara nos seus tempos de assistente de produção nos filmes da série 007. Trancados para os lados de Marvila num armazém comprado para o efeito, encontravam-se as restantes peças da sua colecção automóvel, entre as quais, vários Ferrari, Alfa-Romeo, Porsche e até um fantástico Jensen Interceptor completamente recuperado. Bela introduziu o código numérico que desbloqueava o elevador interno e entrou, premindo o botão R, para residência.
André estava à sua espera de t-shirt e calças de ganga. Não que lhe ficasse mal, mas Bela esperava algo diferente para um jantar após mais de uma semana sem se verem. Sentiu-se um pouco negligenciada e um pouco embaraçada com o seu aspecto aparentemente demasiado sofisticado para a ocasião. Tudo isso se lhe varreu da mente quando André a abraçou e beijou com vibrante paixão.
Talvez não houvesse afinal razão para alarme.
Published by SOSsodomia
5 years ago
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