Três Vidas: Parte I Indecisão Capítulo I

Segunda-feira, oito da manhã. Bela voltou-se na cama e premiu o botão para deter o insuportável estrépito mecânico da detestada maquineta. Comprara-a no eBay, não resistira ao charme do design dos anos de 1950, e ao facto de ser uma peça original, mas o som que produzia era horroroso. Não obstante, continuava a usá-la. Era inquestionavelmente eficiente.
O relógio dizia-lhe que tinha dez minutos de margem de manobra e Bela tencionava aproveitá-los. Tinha ainda na memória excertos do que sonhara durante a noite. Alguém a acariciava. Alguém que lhe tomara posse dos seios, das nádegas, do pescoço. Talvez André? Sara? Bela não sabia ao certo. Mas a humidade e as contracções que sentia ali em baixo não deixavam dúvidas quanto ao resultado. E Bela sabia que tinha de tratar da questão antes de ir para o trabalho ou não seria capaz de se concentrar no que tinha pela frente.
Já que a rapidez era essencial na operação, Bela tirou da gaveta da mesa-de-cabeceira o vibrador adequado; um Ina 2 duplo de oito velocidades. Besuntando um pouco de lubrificante nas duas extremidades, Bela ligou a velocidade mais baixa e introduziu a parte maior na vagina. Um calor reconfortante começou a espalhar-se pelo seu corpo, irradiando daquele ponto nevrálgico. À medida que aprofundava a penetração, sentiu a segunda extremidade tocar-lhe o clitóris, e o surto repentino de prazer acrescentado fê-la erguer as ancas. Bela aumentou a velocidade da vibração e preparou-se para o orgasmo demolidor que se aproximava. Adoro assim, quando me sinto toda cona, pensou, uma fracção de segundo antes de explodir num orgasmo que a fez perder por momentos a noção de onde se encontrava. Bela aguardou um par de minutos enquanto o ritmo cardíaco se normalizava. Em seguida levantou-se e dirigiu-se à casa-de-banho para iniciar o dia.
Tomou um duche retemperador, secou-se, arranjou-se, um visual simples mas elegante, e terminou com a sua habitual «piéce de resistance», um toque de Xerjoff Alexandria II.
Rói-te de inveja, Audrey, pensou com ironia enquanto se via ao espelho de corpo inteiro. O vestido preto fora desenhado e fabricado de raiz por um amigo estilista, e inspirado nos conceitos Givenchy aplicados à famosa actriz e modelo. Evitando as demasiado óbvias sabrinas, Bela escolheu sapatos abertos atrás, com apenas três centímetros de salto. Perco em sex-appeal mas ganho em elegância, pensou Bela, e hoje é disso que preciso.
Descendo do apartamento para a garagem, Bela encontrou as chaves do carro e, antes de o abrir ficou por instantes a contemplá-lo. Fora um presente muito recente de André e não decidira ainda se o aceitaria em definitivo. Muito provavelmente sim, pensou. Bela entrou no Eagle Speedster, ligou o potente motor e saiu da garagem do apartamento na Lapa em direcção ao Marquês, Saldanha e Avenida da República, para apanhar a segunda circular e a A1.
Vamos lá curtir isto até Coimbra.
Published by SOSsodomia
5 years ago
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